Confira a entrevista com o presidente do CREA-SC, Eng. Agr. Ari Geraldo Neumann, na Revista da ACE 1c622f
Nesta entrevista à Revista da ACE, o presidente do CREA-SC, Eng. Agr. Ari Geraldo Neumann, fala dos desafios e conquistas da sua gestão, do equilíbrio financeiro do Conselho diante da saída dos técnicos, do enfrentamento da pandemia da COVID-19 e de como o Conselho se adaptou ao novo contexto. Aborda ainda a disputa acirrada para a presidência do CREA-SC nas Eleições do Sistema de 2020 e de seus reflexos à próxima gestão. Após três anos a frente do maior conselho profissional de Santa Catarina, o presidente Ari deixa um legado importante para os profissionais do estado tais como a reforma da sede em Florianópolis e de outras inspetorias, além de investimentos significativos na área de Tecnologia da Informação com a implantação do Sistema de Gestão SICWEB e a digitalização de todos os processos do Conselho, deixando condições tecnológicas para que as próximas gestões consigam suprir as demandas futuras dos profissionais e da sociedade. 4k6x4t
Após três anos à frente do CREA-SC o que o senhor destacaria como aspectos positivos da sua gestão?
Nossa gestão foi conduzida principalmente pela coerência e bom senso nas tomadas de decisões, prezando sempre pela transparência e pelo consenso entre os nossos representantes. Assim criamos e mantivemos as condições necessárias para realizar com excelência todas as atividades fins deste Conselho, sobretudo a fiscalização do exercício profissional com qualidade, seguindo sempre os preceitos de racionalidade e legalidade. Ao longo destes três anos prezamos por um CREA-SC eficiente, ágil e dinâmico, prestando serviços de qualidade e também atuante e envolvido nos temas relevantes da sociedade, como a mobilidade urbana, a sustentabilidade ambiental, a fiscalização de obras públicas, a ibilidade, entre outros.
- A fiscalização do exercício profissional é atividade principal do CREA-SC. O que o senhor destacaria como benefício para população.
Cada obra, atividade ou serviço desenvolvido por profissionais e empresas registradas no conselho traz maior segurança para a sociedade, além da responsabilização dos profissionais envolvidos nestas atividades. É o conhecimento técnico científico da engenharia, da agronomia e das geociências sendo colocados em prática em benefício das pessoas e da sociedade. Além das fiscalizações privadas, o CREA-SC também faz a fiscalização do exercício profissional nas obras públicas. Durante esta gestão tivemos obras importantes para o estado sendo concluídas e que tiveram total acompanhamento da fiscalização do CREA-SC. É o caso do novo Aeroporto Internacional Hercílio Luiz, da Ponte Hercílio Luz, recentemente inaugurada, e também a obra do Contorno Viário, ainda em andamento, que também será de grande relevância para a mobilidade urbana da Grande Florianópolis, além de diversas outras obras como rodovias, obras de saneamento, e edificações públicas como escolas, hospitais, etc.
- O equilíbrio financeiro da instituição é um dos pontos fortes da sua gestão. Qual é a situação econômica atual do Conselho diante da pandemia que assola o país e que atinge inúmeros setores da economia. Como o CREA-SC reagiu a esta situação?
Além da pandemia, tivemos inúmeros desafios ao longo da gestão e ainda assim conseguimos manter o equilíbrio financeiro do Conselho. Este é um dos aspectos mais relevantes da nossa gestão. Tivemos no primeiro ano, a saída dos técnicos agrícolas e industriais do Sistema, representando cerca de 10% dos profissionais registrados. Recebemos o Conselho, com R$ 7 milhões em caixa e neste momento estamos com de R$ 31 milhões (31/10/2020), mostrando que é possível fazer uma gestão competente, responsável e de qualidade, diminuindo excessos e cortando gastos desnecessários. Estamos enfrentando uma pandemia, cujo contexto de isolamento restringiu as atividades em todo país em inúmeras áreas, inclusive nas profissões do Sistema. A pandemia nos trouxe a necessidade e a possibilidade do teletrabalho. Tivemos que acelerar a digitalização de todos os processos internos e também de fiscalização, algo que vinha se estendendo ao longo dos anos e estamos realizando e concluindo em nossa gestão. Felizmente, priorizamos os investimentos nos equipamentos e sistemas de tecnologia da informação, com destaque para o desenvolvimento do SICWEB – Sistema de Gestão de processos.
- De que forma a implantação do SICWEB e a digitalização dos processos agiliza as atividades dos profissionais e do Conselho?
O processo de implantação do SICWEB envolveu tanto o desenvolvimento do software como o treinamento e a capacitação dos funcionários e demais usuários. Somados a isso, estamos finalizando a digitalização de todos os processos possibilitando o trâmite virtual e a emissão de pareceres virtuais. O SICWEB nos permite um perfil de o específico para conselheiros e colaboradores, a tramitação, análise e digital, além de diversas outras melhorias, que tem como consequência a desburocratização, agilidade e facilidade na utilização dos serviços do CREA-SC.
- A sua gestão realizou e concluiu a reforma da sede do CREA-SC em Florianópolis. Como foi este processo e quais outras inspetorias tiveram ou aram por reformas e adequações?
Conseguimos efetivar a reforma da sede do CREA-SC com o objetivo de aprimorar o atendimento e o bem-estar dos profissionais, dos colaboradores e da sociedade. Este foi também o objetivo das reformas nas demais inspetorias do estado como a de Tubarão, Criciúma e Canoinhas, já finalizadas. Estamos com a reforma em andamento nas inspetorias de Florianópolis e Chapecó e também em fase de projeto, a reforma da Inspetoria de Videira. A obra da sede do CREA-SC, especificamente, foi um desafio porque mantivemos as atividades dos colaboradores. Felizmente tivemos o apoio, a compreensão e a colaboração de todos que, direta ou indiretamente, participaram deste processo. Por isso, é uma conquista conjunta e mérito de todos. Hoje temos o privilégio de ter uma edificação em formato BIM, com a reestruturação de todos os ambientes, a substituição de toda a rede lógica, trazendo maior segurança e também com base nos conceitos de sustentabilidade ambiental, inclusive com a instalação de painéis fotovoltaicos em todo o telhado.
- Como é o relacionamento do Conselho com as entidades de classe e qual a sua importância para o Sistema Confea/Crea e Mútua e para a sociedade?
A relação entre o CREA-SC e as entidades de classe é de cooperação mútua, beneficiando não só os profissionais como também a sociedade. Por meio do Chamamento Público e também da Política de Patrocínio, o Conselho rea recursos destinados à realização de eventos e cursos de capacitação e aprimoramento profissional. Essa qualificação tem como consequência a melhoria dos serviços e atividades prestados pelos profissionais. Assim como o CREA-SC está inserido na sociedade de diversas formas, as entidades também desempenham ações e projetos relevantes em suas comunidades beneficiando a população em diversas áreas. Em 2018 e 2019, foi destinado às entidades de classe do estado, através do chamamento público, um total de R$ 780 mil reais para a realização de 52 eventos. Em 2020, em função da pandemia, não foi realizado esta modalidade. Além disso, em 2019 e 2020 reamos um total de R$ 450 mil a diversas entidades por meio da Política de Patrocínio, sendo R$ 300 mil só em 2020, utilizados na promoção de 17 eventos e 4 publicações técnicas.
- O que esta gestão deixa de aprendizado e benefícios às próximas gestões. Quais são os desafios futuros do Sistema Confea/Crea e Mútua?
Acredito que nós criamos condições tecnológicas para que as próximas gestões consigam atender as demandas futuras dos profissionais e da sociedade. Continuamos acreditando que este é o caminho. Esta pandemia nos trouxe a necessidade de repensar as formas de realizar as atividades e os procedimentos. Isso foi introduzido não só aos colaboradores, mas também aos nossos conselheiros e inspetores que prestam serviços honoríficos. O próximo desafio é regulamentar o home-office com condições de aferir e acompanhar os resultados com qualidade e comprometimento. A adoção do voto eletrônico e digital nas eleições do sistema é urgente e não pode ser mais adiada, sendo o CREA-SC um conselho da área tecnológica. O exame de proficiência também é prioritário, visando manter a qualidade da formação profissional, tendo em vista o grande número de escolas e cursos das áreas da engenharia, agronomia e geociências em funcionamento no país. Todas estas demandas já foram aprovadas pelos profissionais durante os Congressos Estadual e Nacional dos Profissionais (CEP e CNP) e precisam ser colocadas em prática.
- O CREA-SC é um conselho participativo e presente na sociedade catarinense. Onde percebemos esta proximidade e inserção?
O CREA-SC está presente de inúmeras formas na sociedade e na vida dos catarinenses. Em cada atividade, projeto ou serviço desenvolvido pelos profissionais o Conselho se faz presente. Nossa maior contribuição é por meio da fiscalização do exercício profissional, garantindo a segurança da sociedade e a melhoria da qualidade de vida das pessoas. O CREA-SC também é representado nos conselhos e órgãos municipais, estaduais e nacionais, contribuindo com ações e projetos nas áreas de habitação, planejamento, saneamento, mobilidade urbana, entre outros. Além disso, mantemos parcerias e acordos de cooperação importantes com órgãos como EPAGRI, CIDASC, IMA e MPSC nas áreas de fiscalização de agrotóxicos, ibilidade, obras públicas, rastreabilidade de alimentos, entre outros. Em parceria com as entidades de classe, desenvolvemos ações e projetos nas comunidades. Da mesma forma, o Programa CREAjr-SC leva o Conselho para dentro das instituições de ensino e traz os acadêmicos para dentro do CREA-SC.
- Como foi o processo eleitoral deste ano tendo em vista os diferentes adiamentos em função da pandemia?
Santa Catarina é um estado que sempre se destaca nacionalmente pela participação efetiva dos profissionais no processo eleitoral do Sistema. Ainda assim, é um percentual baixo, sendo o voto não obrigatório. Este ano, tivemos mais de 12% dos profissionais aptos votando, enquanto que em alguns estados esse percentual não chegou a 5%. Para o cargo de presidente do CREA-SC tivemos uma disputa acirrada entre os três primeiros candidatos, com uma diferença de 8 votos, entre o segundo e terceiro colocado e uma diferença de 159 votos entre o primeiro e o segundo.
- O que exatamente evidencia esta disputa entre os três principais candidatos?
Isso mostra que os profissionais estão abertos a inúmeros posicionamentos. Acredito que as reivindicações e os projetos divulgados, devem ser considerados pela próxima gestão. Esta mesma disputa e proporcionalidade vai se refletir internamente dentro do Plenário do Conselho entre os 94 conselheiros, que são os representantes das instituições de ensino e entidades de classe do estado. Eles estarão defendendo e reivindicando os posicionamentos propostos durante a campanha eleitoral. Isso vale também para o Conselho Federal, o Confea, que conforme estabelece a Lei nº 5.194/66, é responsável pela elaboração e aprovação de resoluções que constituem a legislação do nosso sistema profissional.
- Você citou alguns desafios enfrentados e superados durante seus três anos de gestão. Isso refletiu na sua decisão de não concorrer à reeleição do CREA-SC de alguma maneira?
As decisões dependem de momentos e contextos. Achei prudente não concorrer à reeleição. O cargo de presidente do CREA-SC é um cargo de grande importância dentro do Sistema Profissional e também para a sociedade, exige muita responsabilidade. Somos gestores de um orçamento considerável, que gira em torno de R$ 60 milhões anual. Além disso, é um cargo honorífico, sem remuneração. Nesta gestão enfrentamos grandes desafios tais como a saída dos técnicos agrícolas e industriais do Sistema. Mesmo assim, mantivemos o equilíbrio financeiro na gestão. Enfrentamos uma pandemia que nos trouxe demandas específicas e tomadas de decisões rápidas e estratégicas. Também tivemos um desgaste referente ao cumprimento de uma sentença judicial envolvendo as atribuições profissionais na área da engenharia elétrica o que gerou conflitos internos entre algumas modalidades profissionais. Foi uma situação herdada de gestões anteriores, que tivemos que istrar e mediar durante esta gestão e conseguimos, de forma ética e transparente, manter a harmonia no Conselho. Foram fatos que acabaram prejudicando uma possível articulação para uma continuidade de mandato. Mesmo não sendo obrigatório concorrer à reeleição, pessoalmente, defendo posição contrária a duas gestões consecutivas.
Currículo:
Extensionista Rural da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa – EPAGRI (1972/1993); Diretor e Secretário Executivo da Associação Catarinense de Criadores de Suínos – ACCS (1975/1993); Diretor de Agricultura de Concórdia (1993/1996); Agente Técnico e Gerente Regional da EPAGRI (1996/2001); Diretor Estadual da EPAGRI (2001/2003); Diretor de Desenvolvimento e Política Rural da Secretaria do Estado da Agricultura de SC (2003/2010).
No CREA-SC: Inspetor-Chefe na Inspetoria de Concórdia (2000/2001); Conselheiro da Câmara Especializada de Agronomia (2003/2008); Assessor da Presidência e Chefe de Gabinete (2010/2017); Implantou o Programa CREAjr-SC; Presidente do CREA-SC de 2018/2020; Presidente da Associação dos Conselhos Profissionais de SC (2019/2020).
Nas Entidades de Classe: Presidente do Núcleo de Engenheiros Agrônomos do Alto Uruguai Catarinense (1878/1979); Diretor, Vice-presidente e Presidente da AEASC – Associação de Engenheiros Agrônomos de Santa Catarina.
Galardoado pelo Crea-SC com a Medalha do Mérito de Santa Catarina (2009). Presidente da Associação dos Conselhos Profissionais de Santa Catarina – ASCOP (2018/2019).